Sábado, 02 Outubro 2010 17:31

Munus Docendi - Catequese do Papa Bento XVI

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Munus docendi

Queridos amigos!

Neste período pascal, que nos guia ao Pentecostes e nos prepara também para as celebrações de encerramento do Ano sacerdotal, que terão lugar nos dias 9, 10 e 11 de Junho próximo, apraz-me dedicar ainda algumas reflexões ao tema do Ministério ordenado, detendo-me sobre a realidade fecunda da configuração do sacerdote com Cristo Cabeça, no exercício dos tria munera que recebe, isto é, dos três ofícios de ensinar, santificar e governar.

Para entender o que significa agir in persona Christi Capitis – na pessoa de Cristo Cabeça por parte do sacerdote, e para compreender inclusive quais consequências derivam da tarefa de representar o Senhor, especialmente no exercício destes três ofícios, antes de tudo é preciso esclarecer o que se entende por "representação". O sacerdote representa Cristo. O que quer dizer, o que significa "representar" alguém? Na linguagem comum, quer dizer geralmente receber uma delegação de uma pessoa para estar presente no seu lugar, falar e agir no seu lugar, porque quem é representado está ausente da acção concreta. Perguntamo-nos: o sacerdote representa o Senhor do mesmo modo? A resposta é não, porque na Igreja Cristo nunca está ausente, a Igreja é o seu corpo vivo e a Cabeça da Igreja é Ele, presente e em acção nela. Cristo nunca está ausente, aliás está presente de um modo totalmente livre dos limites de espaço e tempo, graças ao evento da Ressurreição, que contemplamos de maneira especial neste período de Páscoa.

Portanto, o sacerdote que age in persona Christi Capitis e em representação do Senhor, nunca age em nome de um ausente, mas na própria Pessoa de Cristo Ressuscitado, que se torna presente com a sua acção realmente eficaz. Age de facto e realiza o que o sacerdote não poderia fazer: a consagração do vinho e do pão para que sejam realmente presença do Senhor, a absolvição dos pecados. O Senhor torna presente a sua própria acção na pessoa que realiza tais gestos. Estas três tarefas do sacerdote que a Tradição identificou nas diversas palavras de missão do Senhor: ensinar, santificar e governar na sua distinção e profunda unidade são uma especificação desta representação eficaz. São na verdade as três acções do Cristo Ressuscitado, o mesmo que hoje na Igreja e no mundo ensina e assim cria fé, reúne o seu povo, cria presença da verdade e constrói realmente a comunhão da Igreja universal; e santifica e guia.

A primeira tarefa sobre a qual gostaria de falar hoje é o munus docendi, isto é, ensinar. Hoje, em plena emergência educativa, o munus docendi da Igreja, exercido concretamente através do ministério de cada sacerdote, resulta particularmente importante. Vivemos numa grande confusão acerca das escolhas fundamentais da nossa vida e das interrogações sobre o que é o mundo, de onde vimos, para onde vamos, o que devemos fazer para fazer o bem, como devemos viver, quais são os valores realmente pertinentes. Em relação a tudo isto existem muitas filosofias contrastantes, que nascem e desaparecem, criando confusão sobre as decisões fundamentais, como viver, porque já não sabemos, comummente, do que e para que somos feitos e para onde vamos. Nesta situação realiza-se a palavra do Senhor, que teve compaixão da multidão porque eram como ovelhas sem pastor (cf. Mc 6, 34). O Senhor tinha feito esta constatação quando viu os milhares de pessoas que o seguiam no deserto porque, na diversidade das correntes daquele tempo, já não sabiam qual fosse o verdadeiro sentido da Escritura, o que dizia Deus. O Senhor, movido pela compaixão, interpretou a palavra de Deus, ele mesmo é a palavra de Deus, e assim deu uma orientação. Esta é a função in persona Christi do sacerdote: tornar presente, na confusão e na desorientação dos nossos tempos, a luz da palavra de Deus, a luz que é o próprio Cristo neste nosso mundo. Por conseguinte, o sacerdote não ensina as próprias ideias, uma filosofia que ele mesmo inventou, encontrou ou que gosta; o sacerdote não fala de si mesmo, não fala por si mesmo, talvez para criar admiradores ou um partido próprio; não diz coisas próprias, invenções suas mas, na confusão de todas as filosofias, o sacerdote ensina em nome de Cristo presente, propõe a verdade que é o próprio Cristo, a sua palavra, o seu modo de viver e de ir em frente. Para o sacerdote vale o que Cristo disse sobre si mesmo: "A minha doutrina não é minha" (Jo 7, 16); isto é, Cristo não se propõe a si mesmo, mas, como Filho, é a voz, a palavra do Pai. Também o sacerdote deve sempre dizer e agir assim: "a minha doutrina não é minha, não difundo as minhas ideias ou o que me agrada, mas são boca e coração de Cristo e torno presente esta única e comum doutrina, que criou a Igreja universal e que cria vida eterna".

Este facto, que o sacerdote não inventa, não cria e não proclama ideias próprias porque a doutrina que anuncia não é sua, mas de Cristo, por outro lado, não significa que ele seja neutro, quase como um porta-voz que lê um texto do qual, talvez, nem se apropria. Também neste caso, vale o modelo de Cristo, que disse: Eu não sou para mim e não vivo para mim, mas venho do Pai e vivo para o Pai. Portanto, nesta identificação profunda, a doutrina de Cristo é a do Pai e Ele mesmo é um só com o Pai. O sacerdote que anuncia a palavra de Cristo, a fé da Igreja e não as próprias ideias, deve dizer também: Eu não vivo por mim e para mim, mas vivo com Cristo e para Cristo e portanto tudo aquilo que Cristo nos disse torna-se a minha palavra não obstante não seja minha. A vida do sacerdote deve identificar-se com Cristo e, deste modo, a palavra não própria torna-se, contudo, uma palavra profundamente pessoal. Santo Agostinho, sobre este tema, falando acerca dos sacerdotes, disse: "E nós o que somos? Ministros (de Cristo), seus servidores; porque o que distribuímos a vós não é nosso, mas tiramo-lo da sua despensa. E inclusive nós vivemos dela, porque somos servos como vós" (Discurso 229/e, 4).

O ensinamento que o sacerdote é chamado a oferecer, as verdades da fé, devem ser interiorizadas e vividas num intenso caminho espiritual pessoal, de forma que realmente o sacerdote entre numa profunda, interior comunhão com o próprio Cristo. O sacerdote crê, acolhe e procura viver, antes de tudo como próprio, quanto o Senhor ensinou e a Igreja transmitiu, naquele percurso de identificação com o próprio ministério do qual São João Maria Vianney é testemunha exemplar (cf. Carta para a proclamação do Ano sacerdotal). "Unidos na mesma caridade afirma ainda Santo Agostinho todos somos auditores daquele que é para nós no céu o único Mestre" (Enarr. in Ps. 131, 1, 7).

Por conseguinte, com frequência a voz do sacerdote poderia parecer "a de um que grita no deserto" (Mc 1, 3), mas exactamente nisto consiste a sua força profética: em nunca ser homologado, nem homologável, a alguma cultura ou mentalidade dominante, mas em mostrar a única novidade capaz de produzir uma autêntica e profunda renovação do homem, ou seja, que Cristo é o Vivente, é o Deus próximo, o Deus que age na vida e para a vida do mundo e nos doa a verdade, o modo de viver.

Na preparação atenta da pregação festiva, sem excluir a dos dias úteis, no esforço de formação catequética, nas escolas, nas instituições académicas e, de modo especial, através daquele livro não escrito que é a própria vida, o sacerdote é sempre "professor", ensina. Mas não com a presunção de quem impõe as próprias verdades, mas com a humilde e jubilosa certeza de quem encontrou a Verdade, foi capturado e transformado por ela, e por conseguinte não pode deixar de a anunciar. Com efeito, ninguém pode escolher o sacerdócio por si mesmo, não é um modo para alcançar a segurança na vida, para conquistar uma posição social: ninguém pode obtê-lo nem procurá-lo sozinho. O sacerdócio é resposta ao chamamento do Senhor, à sua vontade, para se tornar anunciadores não de uma verdade pessoal, mas da sua verdade.

Queridos irmãos sacerdotes, o Povo cristão pede para escutar dos nossos mestres a genuína doutrina eclesial, através da qual se possa renovar o encontro com Cristo que doa a alegria, a paz e a salvação. A Sagrada Escritura, os escritos dos Padres e dos Doutores da Igreja e o Catecismo da Igreja Católica constituem, a este propósito, pontos de referência imprescindíveis no exercício do munus docendi, tão essencial para a conversão, o caminho de fé e a salvação dos homens. "Ordenação sacerdotal significa: estar imersos (...) na Verdade" (Homilia da Missa Crismal, 9 de Abril de 2009), aquela Verdade que não é simplesmente um conceito ou um conjunto de ideias a transmitir e assimilar, mas que é a Pessoa de Cristo, com a qual, pela qual e na qual viver e assim, necessariamente, nasce também a actualidade e a compreensão do anúncio. Só esta consciência de uma Verdade feita Pessoa na Encarnação do Filho justifica o mandato missionário: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a humanidade" (Mc 15, 16). Só se se trata da Verdade ela está destinada a toda a humanidade, não é uma imposição de algo, mas a abertura do coração àquilo pelo qual se foi criado.

Queridos irmãos e irmãs, o Senhor confiou aos Sacerdotes uma grande tarefa: ser anunciadores da Sua Palavra, da Verdade que salva; ser a sua voz no mundo para levar aquilo que beneficia o bem verdadeiro das almas e o autêntico caminho de fé (cf. 1 Cor 6, 12). São João Maria Vianney seja exemplo para todos os Sacerdotes. Ele era homem de grande sabedoria e heróica força ao resistir às pressões culturais e sociais do seu tempo para poder guiar as almas para Deus: simplicidade, fidelidade e proximidade eram as características essenciais da sua pregação, transparência da sua fé e da sua santidade. O Povo cristão era edificado e, como acontece para os autênticos mestres de todos os tempos, reconhecia nele a luz da Verdade. Em definitiva, reconhecia nele o que se deveria reconhecer sempre num sacerdote: a voz do Bom Pastor.

Audiência de 14 de abril de 2010.

Fonte: www.vatican.va

Munus sanctificandi

Prezados irmãos e irmãs!

No domingo passado, na minha Visita Pastoral a Turim, tive a alegria de me deter em oração diante do Santo Sudário, unindo-me aos mais de dois milhões de peregrinos que, durante a solene Ostensão destes dias, puderam contemplá-lo. Aquele santo Pano pode nutrir e alimentar a fé e revigorar a piedade cristã, porque encoraja a orientar-se para o Rosto de Cristo, para o Corpo de Cristo crucificado e ressuscitado, a fim de contemplar o Mistério pascal, centro da Mensagem cristã. Do Corpo de Cristo ressuscitado, vivo e activo na história (cf. Rm 12, 5) nós, queridos irmãos e irmãs, somos membros vivos, cada qual segundo a própria função, ou seja, com a tarefa que o Senhor quis confiar-nos. Hoje, nesta catequese, gostaria de reflectir de novo sobre as tarefas específicas dos sacerdotes que, segundo a tradição, são essencialmente três:  ensinar, santificar e governar. Numa das catequeses precedentes falei sobre a primeira destas três missões:  o ensino, o anúncio da verdade, o anúncio do Deus revelado em Cristo, ou – com outras palavras – a tarefa profética de pôr o homem em contacto com a verdade, de ajudá-lo a conhecer o essencial da sua vida, da própria realidade.

Hoje, gostaria de reflectir brevemente convosco sobre a segunda tarefa que o sacerdote tem, a de santificar os homens, sobretudo mediante os Sacramentos e o culto da Igreja. Aqui devemos perguntar-nos antes de tudo:  o que quer dizer a palavra "Santo"? A resposta é:  "Santo" é a qualidade específica do ser de Deus, ou seja, absoluta verdade, bondade, amor e beleza – luz pura. Portanto, santificar uma pessoa significa colocá-la em contacto com Deus, com este seu ser luz, verdade, amor puro. É óbvio que este contacto transforma a pessoa. Na antiguidade havia esta firme convicção:  ninguém pode ver Deus, sem morrer imediatamente. A força da verdade e da luz é demasiado grande! Se o homem toca esta corrente absoluta, não sobrevive. Por outro lado, havia também esta convicção:  sem um contacto mínimo com Deus, o homem não pode viver. Verdade, bondade e amor são condições fundamentais do seu ser. A questão é:  como pode o homem encontrar aquele contacto com Deus, que é fundamental, sem morrer esmagado pela grandeza do ser divino? A fé da Igreja diz-nos que o próprio Deus cria este contacto, que nos transforma gradualmente em verdadeiras imagens de Deus.

Assim, chegamos de novo à tarefa do sacerdote de "santificar". Nenhum homem por si mesmo, a partir da sua própria força, pode pôr o outro em contacto com Deus. Uma parte essencial da graça do sacerdócio é o dom, a tarefa de criar este contacto. Isto realiza-se no anúncio da palavra de Deus, na qual a sua luz vem ao nosso encontro. Realiza-se de um modo particularmente denso nos Sacramentos. A imersão no Mistério pascal de morte e ressurreição de Cristo verifica-se no Baptismo, é revigorada na Confirmação e na Reconciliação, é alimentada pela Eucaristia, Sacramento que edifica a Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica Pastores gregis, 32). Portanto, é o próprio Cristo que santifica, ou seja, que nos atrai para a esfera de Deus. Mas como acto da sua misericórdia infinita chama alguns a "permanecer" com Ele (crf. Mc 3, 14) e a tornar-se, mediante o Sacramento da Ordem, não obstante a pobreza humana, partícipes do seu próprio Sacerdócio, ministros desta santificação, dispensadores dos seus mistérios, "pontes" do encontro com Ele, da sua mediação entre Deus e os homens, e entre os homens e Deus (cf. Presbyterorum ordinis, 5).

Nas últimas décadas, houve tendências orientadas para fazer prevalecer, na identidade e na missão do sacerdote, a dimensão do anúncio, desligando-a daquela da santificação; afirmou-se muitas vezes que seria necessário superar uma pastoral meramente sacramental. Mas é possível exercer de forma autêntica o Ministério sacerdotal, "superando" a pastoral sacramental? O que significa propriamente para os sacerdotes evangelizar, em que consiste a chamada primazia do anúncio? Como narram os Evangelhos, Jesus afirma que o anúncio do Reino de Deus é a finalidade da sua missão; porém, este anúncio não é apenas um "discurso" mas inclui, ao mesmo tempo, o seu próprio agir; os sinais, os milagres que Jesus realiza, indicam que o Reino vem como realidade presente e que no final coincide com a sua própria pessoa, com o dom de si, como ouvimos hoje na leitura do Evangelho. E o mesmo é válido para o ministro ordenado:  ele, o sacerdote, representa Cristo, o Enviado do Pai e continua a sua missão, mediante a "palavra" e o "sacramento", nesta totalidade de corpo e alma, de sinal e palavra. Santo Agostinho, numa carta enviada ao Bispo Honorato de Tiabes, referindo-se aos sacerdotes, afirma:  "Portanto, os servos de Cristo, os ministros da palavra e do Seu sacramento façam aquilo que Ele ordenou ou permitiu" (Epist. 228, 2). É necessário reflectir se, em certos casos, o facto de ter subestimado o exercício fiel do munus sanctificandi, não representou talvez uma debilitação da própria fé na eficácia salvífica dos Sacramentos e, de modo definitivo, na obra actual de Cristo e do seu Espírito, através da Igreja, no mundo.

Portanto, quem salva o mundo e o homem? A única resposta que podemos dar é:  Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado. E onde se actualiza o Mistério da morte e ressurreição de Cristo, que traz a salvação? Na acção de Cristo, mediante a Igreja, de modo particular no Sacramento da Eucaristia, que torna presente a oferenda sacrifical redendora do Filho de Deus, no Sacramento da Reconciliação, em que da morte do pecado se volta à vida nova, e em todos os outros actos sacramentais de santificação (cf. Presbyterorum ordinis, 5). Portanto, é importante promover uma catequese adequada para ajudar os fiéis a compreender o valor dos Sacramentos, mas é igualmente necessário, a exemplo do Santo Cura d'Ars, estarmos disponíveis, sermos generosos e atentos a transmitir aos irmãos os tesouros de graça que Deus depositou nas nossas mãos, e dos quais não somos os "senhores", mas guardiães e administradores. Sobretudo neste nosso tempo em que, por um lado, parece que a fé se vai debilitando e, por outro, sobressaem uma profunda necessidade e uma difundida busca de espiritualidade, é necessário que cada sacerdote se recorde que na sua missão o anúncio missionário, o culto e os sacramentos nunca estão separados, e promova uma pastoral sacramental sadia, para formar o Povo de Deus e para o ajudar a viver plenamente a Liturgia, o culto da Igreja e os Sacramentos como dons gratuitos de Deus, gestos livres e eficazes da sua acção de salvação.

Como eu recordava na Santa Missa Crismal deste ano:  "O centro do culto da Igreja é o Sacramento. Sacramento significa que, em primeiro lugar, não somos nós homens que realizamos algo, mas é Deus que vem antes ao nosso encontro com o seu agir, que nos olha e nos conduz para junto de Si (...) Deus toca-nos por meio de realidades materiais (...) que Ele assume ao seu serviço, transformando-as em instrumentos do encontro entre nós e Ele mesmo" (Homilia na Santa Missa Crismal, 1 de Abril de 2010). A verdade segundo a qual no Sacramento "não somos nós homens que realizamos algo" refere-se, e deve referir-se, também à consciência sacerdotal:  cada presbítero sabe bem que é um instrumento necessário para o agir salvífico de Deus, contudo é sempre instrumento. Tal consciência deve tornar-nos humildes e generosos na administração dos Sacramentos, no respeito pelas normas canónicas, mas também na profunda convicção de que a própria missão é fazer com que todos os homens, unidos a Cristo, possam oferecer-se a Deus como hóstia viva e santa do seu agrado (cf. Rm 12, 1). Acerca do primado do munus sanctificandi e da justa interpretação da pastoral sacramental, é novamente exemplar São João Maria Vianney que um dia, a um homem que dizia que não tinha fé e desejava discutir com ele, retorquiu:  "Oh, meu amigo, orientas-te muito mal, eu não sei raciocinar... mas se tiveres necessidade de alguma consolação, põe-te acolá... (o seu dedo indicava o inexorável banco [do confessionário] e, acredita-me, muitos outros se puseram ali antes de ti, e não se arrependeram" (cf. Monnin A., Il curato d'Ars. Vita di Gian-Battista-Maria Vianney, vol. I, Turim 1870, págs. 163-164).

Estimados sacerdotes, vivei com alegria e com amor a Liturgia e o culto:  é um gesto que o Ressuscitado cumpre no poder do Espírito Santo em nós, connosco e por nós. Gostaria de renovar o convite feito recentemente a "voltar ao confessionário, como lugar onde celebrar o Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar onde "habitar" com mais frequência, para que o fiel possa encontrar misericórdia, sentir-se amado e compreendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia Divina ao lado da Presença real na Eucaristia" (Discurso à Penitenciaria Apostólica, 11 de Março de 2010). E quereria convidar também cada sacerdote a celebrar e viver com intensidade a Eucaristia, que está no coração da tarefa de santificar; é Jesus que quer estar connosco, viver em nós, doar-se-nos, mostrar-nos a misericórdia e a ternura infinitas de Deus; é o único Sacrifício de amor de Cristo que se torna presente, se realiza entre nós e chega até ao trono da Graça, à presença de Deus, abrange a humanidade e nos une a Ele (cf. Discurso ao Clero de Roma, 18 de Fevereiro de 2010). E o sacerdote está chamado a ser ministro deste grande Mistério, no Sacramento e na vida. Se "a grande tradição eclesial justamente desligou a eficácia sacramental da situação existencial concreta de cada sacerdote, e assim as legítimas expectativas dos fiéis são adequadamente salvaguardadas", isto em nada diminui "a necessária, aliás indispensável, tensão para a perfeição moral, que deve habitar em cada coração autenticamente sacerdotal":  há também um exemplo de fé e de testemunho de santidade, que o Povo de Deus justamente espera dos seus Pastores (cf. Bento XVI, Discurso à Plenária da Congregação para o Clero, 16 de Março de 2009). E é na celebração dos Santos Mistérios que o presbítero encontra a raiz da sua santificação (cf. Presbyterorum ordinis, 12-13).

Caros amigos, sede conscientes do grande dom que os sacerdotes são para a Igreja e para o mundo; através do seu ministério, o Senhor continua a salvar os homens, a tornar-se presente, a santificar. Sabei dar graças a Deus, e sobretudo estai próximos dos vossos sacerdotes com a oração e o apoio, de maneira especial nas dificuldades, a fim de que haja cada vez mais Pastores segundo o Coração de Deus. Obrigado!

Audiência da Quarta-feira, 05 de maio de 2010.

Fonte: www.vatican.va

Sábado, 02 Outubro 2010 13:23

O Martírio - Papa Bento XVI

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O martírio

Caros irmãos e irmãs

Hoje, na Liturgia recordamos Santa Clara de Assis, fundadora das Clarissas, luminosa figura da qual falarei numa das próximas Catequeses. Mas nesta semana – como já tínhamos mencionado no Angelus do domingo passado – fazemos memória também de alguns Santos mártires, quer dos primeiros séculos da Igreja, como São Lourenço, diácono; São Ponciano, Papa; e Santo Hipólito, sacerdote; quer de um período mais próximo de nós, como Santa Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein, Padroeira da Europa, e São Maximiliano Maria Kolbe.

Onde se fundamenta o martírio? A resposta é simples: na morte de Jesus, no seu sacrifício supremo de amor, consumido na Cruz, a fim de que nós pudéssemos ter vida (cf. Jo 10, 10). Cristo é o servo sofredor de que fala o profeta Isaías (cf. Is 52, 13-15), que se entregou a si mesmo em resgate por muitos (cf. Mt 20, 28). Ele exorta os seus discípulos, cada um de nós, a tomar todos os dias a cruz que nos é própria e segui-lo pelo caminho do amor total a Deus Pai e à humanidade: "Quem não tomar a sua cruz para me seguir – diz-nos – não é digno de mim. Aquele que procura conservar a vida para si mesmo, perdê-la-á; mas aquele que perder a sua vida por causa de mim, salvá-la-á" (Mt 10, 38-39). O próprio Jesus "é o grão de trigo que veio de Deus, o grão de trigo divino, que se deixa cair na terra, que se deixa partir, romper na morte e, precisamente através disto, abre-se e desta maneira pode dar fruto na vastidão do mundo" (Bento XVI Visita à Igreja luterana de Roma, 14 de Março de 2010). O mártir segue o Senhor até ao fim, aceitando livremente de morrer para a salvação do mundo, numa prova suprema de fé e de amor (cf. Lumen gentium, 42).

Mais uma vez, de onde nasce a força para enfrentar o martírio? Da profunda e íntima união com Cristo, porque o martírio e a vocação ao martírio não constituem o resultado de um esforço humano, mas são a resposta a uma iniciativa e a uma chamada de Deus, são um dom da sua graça, que torna capaz de oferecer a própria vida por amor a Cristo e à Igreja, e assim ao mundo. Quando lemos a vida dos mártires, ficamos admirados com a tranquilidade e a coragem com que eles enfrentaram o sofrimento e a morte: o poder de Deus manifesta-se plenamente na debilidade, na pobreza daquele que se confia a Ele e deposita a sua própria esperança unicamente n'Ele (cf. 2 Cor 12, 9). No entanto, é importante ressaltar o facto de que a graça de Deus não suprime nem sufoca a liberdade daqueles que enfrentam o martírio mas, ao contrário, enriquece-a e exalta-a: o mártir é uma pessoa sumamente livre, livre em relação ao poder e ao mundo; uma pessoa livre, que num único gesto definitivo entrega toda a sua vida a Deus, e num supremo gesto de fé, de esperança e de caridade, abandona-se nas mãos do seu Criador e Redentor; sacrifica a própria vida para ser associado de maneira total ao Sacrifício de Cristo na Cruz. Em síntese, o martírio é um grande gesto de amor, em resposta ao amor imenso de Deus.

Estimados irmãos e irmãs, como eu já dizia na quarta-feira passada, provavelmente nós não somos chamados ao martírio, mas nenhum de nós está excluído da chamada divina à santidade, a viver a medida alta da existência cristã, e isto exige que tomemos todos os dias a cruz sobre nós mesmos. Todos nós, sobretudo no nosso tempo, em que parecem prevalecer o egoísmo e o individualismo, temos o dever de assumir como compromisso primário e fundamental, o de crescer cada dia num amor maior a Deus e aos irmãos, para mudar a nossa vida e assim transformar também a vida do nosso mundo. Por intercessão dos Santos e dos Mártires, peçamos ao Senhor que inflame o nosso coração, para sermos capazes de amar como Ele amou cada um de nós.

Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, Audiência Geral, 11 de agosto de 2010.

Fonte: Site do Vaticano

Sábado, 02 Outubro 2010 13:08

27º Domingo do Tempo Comum

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Evangelho do domingo: é grátis

 

Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo

 

OVIEDO, quinta-feira, 30 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste domingo (Lucas 17,5-10 ), 27º do Tempo Comum.

* * *

Estão Jesus e os discípulos face a face e se apresenta um tema tão básico como o da fé. Eles veem a desproporção entre o que o Mestre propõe e o que, de fato, suas vidas oferecem. Daí aquela petição com humilde realismo por parte daqueles homens: "Aumenta a nossa fé". É a experiência de vertigem diante de Alguém grande, diante de um mestre diferente em Israel.

Jesus provoca seus discípulos de fé fraca, utilizando o recurso do paradoxo: crer até no impossível - que uma amoreira se arranque da terra e se plante no mar. Sem dúvida, ficariam completamente desconcertados. Porque crer não é uma postura fingida, mas a adesão da pessoa inteira. A fé que ia se derivando como condição para ser discípulo de Jesus não era uma questão periférica para os momentos de apuro e dificuldade, mas uma fé para todo momento, aconteça o que acontecer: o que é impossível para vós é possível para Deus.

Em segundo lugar, uma fé que é um dom. A adesão a Deus, que transforma em possíveis os impossíveis, não é resultado do empenho, nem do nobre esforço, mas uma graça que Deus concede a quem a pede e a acolhe. Assim, é impróprio estabelecer um preço àquilo que se recebe gratuitamente. É o que Jesus explica com o exemplo do criado do campo: "Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer".

Hoje, Jesus também nos provoca, quando vemos tantos impossíveis no nosso mundo: violências, guerras, corrupções, fomes, desencantos... Não é um desafio à nossa habilidade ou estratégia, mas à nossa fé, porque a solução para as nossas dificuldades não depende simplesmente dos nossos estratagemas ou truques, mas da realização do projeto de Deus sobre a história, isto é, o Reino.

Ter fé é aderir a Deus e ao seu projeto, tornando-o realidade, sonho cumprido e não pesadelo a ser esquecido. É apaixonar-se por esse plano divino, com todo o coração e com toda a inteligência. No final de tudo, não poderemos argumentar diante de Deus que lhe fizemos um favor por termos acreditado n'Ele e termos colaborado na realização do seu projeto. E não poderemos lhe cobrar a fatura ou os honorários, porque ser humanos e ser crentes é o que tínhamos de ser, pois nascemos para isso. Sem dúvida, também nós, que chegamos a este ponto de ver como é a nossa fé, acabamos dizendo o mesmo que os discípulos: "Senhor, aumenta a nossa fé!"

Sábado, 28 Agosto 2010 21:10

Modéstia e Gratuidade

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A luta pelo poder e pelo “status” é característica do cotidiano de nossa sociedade materialista e hedonista, em que o ter, o prazer e o poder ocupam o lugar do sagrado. Por causa disto, quantas intrigas, extorsões, corrupção, violência!
Infelizmente, também nós, muitas vezes, como os comensais observados por Jesus, achamos que a posição é que faz o homem.
   

Freqüentemente, os ensinamentos de Jesus derivam de situações da vida real. Para fazer seus discípulos refletirem, Ele comparava os critérios e razões habituais do povo, como em São Lucas, 14,1.7-14, com os critérios de seu próprio Evangelho.
Orientados por falsos valores que somos capazes de assumir e defender, invertemos posições e significados em nossa vida, o que nos afasta cada vez mais da verdade, da justiça, do amor.
Jesus nos orienta a irmos ao encontro dos reais valores do Evangelho e do Reino de Deus. Sejamos audaciosos. Não nos deixemos enganar por padrões de comportamentos que dão a ilusão de grandeza, quando, na verdade, nos prendem a clichês pré-estabelecidos. No entendimento divino, tudo possui uma determinada ordem que nem sempre combina com os nossos critérios.
   

Os que freqüentam e participam ativamente das celebrações têm em comum a fé no Deus vivo e a esperança no Reino de Deus. No banquete da Eucaristia, todos são convidados por Jesus: “Amigo, venha mais para cima”, porque nele Deus se tornou próximo e íntimo. No pão partilhado, podemos experimentar a gratuidade de Deus com a humanidade.
   

A comunidade cristã é a reunião de consagrados a Deus e nossa fé nos garante, desde já, que nossos nomes estão inscritos no céu. Por isto, celebrar a fé significa acabar com os privilégios e discriminações, pois, no Reino de Deus, não há primeiros nem últimos. E, a exemplo de Jesus, se tivermos que privilegiar alguém, há de ser os excluídos (pobres, aleijados, mancos, velhos, etc). A Santa Eucaristia é o momento oportuno para entendermos que nosso Deus optou pelos marginalizados e nossa felicidade consiste em servi-los e promovê-los, à semelhança de Jesus, que está no meio de nós como aquele que serve, sem alarde, com simplicidade e modéstia.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG)

(fonte: Radio Vaticana)

Sexta, 27 Agosto 2010 21:26

A Auto-suficiência

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No mundo da ciência e da tecnologia, a palavra de ordem que comanda é a “perfeição”, a alta definição. Acontece que isto não satisfaz às exigências dos seus destinatários, isto é, a realização da felicidade da realidade social. As pessoas não têm sido mais felizes por isto. É sinal de que algo não está totalmente certo e perfeito.

De outro lado, temos os indicativos precisos da Palavra de Deus. Jesus convida as pessoas para que deixem a arrogância, a auto-suficiência, o querer ocupar os primeiros lugares e o ser melhor do que os outros. A forma de ser feliz passa por outros caminhos, pela prática da sabedoria e da gratuidade.

Não podemos nos conformar com uma cultura de “qualidade total” no seu instrumental de ação deixando na marginalidade os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos e desvalidos de hoje. Um tempo de prosperidade e de desenvolvimento não pode ser excludente a ponto de privilegiar alguns e não levar em conta a maioria da população.

Um mundo de igualdade, apesar dos direitos individuais adquiridos honestamente, leva a superar as desigualdades e a competição social que existe. Não é fácil entender e praticar a proposta do Evangelho quando diz que “o primeiro é aquele que serve, o maior é o último”. Nestas atitudes estão os autênticos valores para o cristão.

A sociedade capitalista vive num intercâmbio de favores. Ela negocia com quem é capaz de competir, deixando de lado o valor da gratuidade, do perdão a quem não pode pagar e da realidade do pobre. Esses últimos não têm lugar à mesa da classe abastada e privilegiada na posse de bens materiais.

O importante é viver com sabedoria, confiante em Deus e na humildade de coração. O afeto das pessoas e de Deus se conquista com os gestos simples de humildade, muito mais do que com presentes valiosos, mas sem a força do amor e da espiritualidade. Isto significa que os mistérios de Deus são revelados aos simples e não aos orgulhosos e auto-suficientes.

Dom Paulo Mendes Peixoto, 
Bispo de São José do Rio Preto

Segunda, 26 Julho 2010 21:42

Luzes e Sombras. D. Orani Tempesta, RJ.

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Luzes e Sombras

Rio de Janeiro, 24 jul (RJ) - Embora saibamos que a retroalimentação das notícias tem as razões econômicas e de audiência, os noticiários, no entanto, estão plenos de notícias violentas, mais do que o costumeiro. Poderíamos até discutir as opções editoriais, mas, sem dúvida, tudo isso nos faz pensar sobre tantas situações que machucam as pessoas só em ouvir alguns fatos. Não penso apenas em questões de violência local tramada friamente, mas em toda uma situação generalizada e em vários escalões. Não precisamos descrever as angústias e sobressaltos patentes nos acontecimentos que, como um raio e na mesma velocidade da luz, atingem-nos a todos no mesmo momento, quase que instantâneo, por uma mudança de época para a vida digital em que beneficia mais as relações virtuais do que as relações pessoais. Derrubam nossas crenças e sangram os corações daqueles que ainda têm um pouco de sensibilidade.

Desde os cataclismos da Natureza, dos terremotos, maremotos com os tsumanis, as torrentes dos céus que desabam sobre regiões inteiras espalhando a destruição e a morte, os atentados que como nuvens sombrias de terror e medo tolhem a liberdade de ir e vir, de gozar dos privilégios que a técnica nos põe disponíveis, até o convívio mais íntimo do amor que se destrói no escárnio à vida e ao que é mais sagrado aos corações, é o que nos atormenta e apavora.

Não é preciso descrevê-los. Abram os jornais, ligue-se a televisão, ouçam o rádio. A internet atualiza, segundo a segundo, as noticias nos computadores que, como que se deliciando em ampliar o tétrico, repetem e ampliam os fatos, dando-lhes contornos mais negros que a escuridão de uma noite de tempestade. Dizem que ninguém cria os fatos, e isso é verdade, mas ao escolhê-los para divulgar nós privilegiamos uma visão da vida e da sociedade.

Por que isso acontece, quando temos tudo a esperar do progresso e do desenvolvimento social? Pensávamos que o século XXI, com as novas técnicas e os passos dados pela humanidade, nos encontraria com um respeito maior ao ser humano e com possibilidade de convivência em paz entre os diferentes.

O homem não é apenas um ser natural. Superior a isto, é um ser cultural, um ser histórico. Dotado de inteligência, tem consciência de sua vida e traça seu destino, individual e coletivamente. Ao mesmo tempo é fruto do seu tempo e impulsiona o seu desenvolvimento ou o seu retrocesso. Acreditamos ainda mais – que é criado por Deus e tem uma vida eterna!
Ao criar-nos, Deus nos deu a liberdade. Ele apontou-nos os dois caminhos que podemos livremente escolher, o que nos leva à bênção e à felicidade, e o que conduz à destruição.

Na história, vez por vez, na civilização, a par da evolução do conhecimento e da técnica, transparece mais; na escolha individual e social a degradação, que traz consigo as terríveis consequências que levam ao caos e à morte. São resultados do que escolhemos. Abusamos da Natureza, saímos da estrada da reta utilização dos bens e recursos naturais, o egoísmo e a luxúria induzem-nos a desconhecer o outro e a seus direitos, e até a desprezar a nós mesmos. Enegrecemos a atmosfera com resíduos poluidores e temos o aquecimento global. Destruímos o mar com a falta de cuidado e atenção, tornando suas águas cristalinas em ondas negras que extinguem a vida. Extinguimos peixes e animais, quando não praticamos o genocídio para a seleção da espécie. Optamos pelo hedonismo desenfreado. A riqueza, encapsulada para uns poucos, escandalosamente roubada de quem trabalha honestamente. Em consequência, os danos nos achacam individual e coletivamente.

Como o Mestre, o cristão tem de chorar e lamentar sobre a cidade e clamar que o caminho é outro: “Ah! Se ao menos neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz” (cfr. Lc 19,21).

Um mundo que prega a morte das crianças no ventre da mãe não está formando o ser humano para o respeito à vida do outro. Os fatos irão demonstrando a que levam as opções que tanto difundem os antiquados defensores da morte como a busca de aprovação de leis injustas contra a pessoa humana.

O desenvolvimento somente se dará plenamente se soubermos respeitar o homem. Se o homem, reconhecendo a sua insuficiência, prostrar-se diante do Criador.

A nossa liberdade de escolha tem de ser direcionada para alvos superiores, de reconhecimento de que formamos uma só família e que a Terra é a nossa moradia comum. Abrir-nos decididamente para o próximo, reconhecer o seu direito e tudo dirigir segundo a sua finalidade.

Voltemos ao Evangelho! É tempo de nos voltarmos para o Deus da Vida e descobrir os valores transcendentais da pessoa humana. Na busca do progresso e desenvolvimento, a obrigação nossa, de seres a quem foi confiada a Terra, temos de ordenar tudo para o bem, para a realização plena de nossa natureza, como pessoa e como sociedade, até atingirmos a perfeição a que fomos destinados na liberdade de filhos de Deus, pela qual anseia toda a criação.

+ Orani João Tempesta,

O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Fonte: Rádio Vaticana

Segunda, 19 Julho 2010 15:31

Reflexão para o 16º Domingo do Tempo Comum

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Reflexão para o 16º Domingo do Tempo Comum

O tema da liturgia de hoje é a hospitalidade. Tanto na primeira leitura que fala da visita de Deus a Abraão e Sara, quando moravam em tendas, como no Evangelho, quando relata a visita de Jesus Cristo a Lázaro, Marta e Maria. Deus vem a nós como qualquer pessoa e deseja ser acolhido.

A primeira leitura versa sobre a dificuldade que temos quando fazemos um ato de caridade e de acolhida e nos lembramos das palavras de Jesus: “Quem acolhe um desses pequeninos, me acolhe e quem me acolhe, acolhe o Pai que me enviou.” Abraão não sabe que acolhe Deus, mas no final tem consciência de que hospedou e serviu o Deus Altíssimo nas pessoas daqueles três homens.

Os três chegaram à tenda de Abrão em um momento inoportuno. Fazia o maior calor do dia e Abraão fazia sua sesta. Todavia, ao vê-los ao longe, ele se levanta e se dirige aos visitantes e lhes dá as boas-vindas. Faz com que se sentem, traz água para que lavem os pés e vai tomar outras providências para bem recebê-los. Mais tarde, aparece com pão feito na hora, com a carne do bezerro que havia mandado o empregado matar e preparar, com coalhada e com leite.

Podemos dizer que, com sua generosidade, Abraão providenciou o máximo que ele podia oferecer e ofereceu um banquete.

Abraão não se senta, mas permanece de pé, no sentido de estar disponível para servi-los. Podemos imaginar, pela fala de Abraão, que os chama de "meu Senhor" ao acolhê-los, que intuía que os visitantes fossem Deus. Por outro lado, eles se comportam de modo diferente de como os habitantes daquela região se comportariam, não perguntando pela mulher do dono da casa; ao invés, eles perguntam por ela e demonstram saber seu nome, e fazem alusão à sua esterilidade, prometendo-lhes um filho dentro de um ano.

O relato da visita de Jesus à família de Betânia traz à nossa reflexão a dimensão espiritual que pode conter uma visita e sua acolhida.

Jesus não critica Marta por chamar sua irmã para ajudá-la nos afazeres e nem elogia Maria porque, aparentemente, está desligada, não percebendo o "sufoco" da irmã. Marta é censurada por Jesus porque está "preocupada e agitada por muitas coisas"; está dispersa em meio a tantos afazeres. Maria é elogiada porque está na "escuta da Palavra".

Marta deveria ter-se envolvido no trabalho após ter escutado a Palavra. Isso evitaria que ela caísse na agitação, na canseira e na neurastenia.

Por outro lado, durante esse episódio, não se ouviu a voz de Maria. Ela permaneceu silenciosa todo o tempo. Certamente, em seu silêncio, Maria viu a reação da irmã e se levantou colocou o avental e foi trabalhar. Por sua vez, Marta deixou o avental e foi acalmar-se aos pés de Jesus, quando este a censurou.

Abraão, com serenidade, deixou seu descanso no momento mais exaustivo do dia e foi servir os hóspedes. Marta, preocupada em servir o Mestre, se esqueceu de se alimentar de sua Palavra e ficou agitada, preparando a refeição. Maria, a disponível, primeiro se preparou para o serviço, ouvindo o Senhor. Mesmo com a reclamação da irmã, mesmo trabalhando e servindo o tempo todo, conservou a serenidade a ponto de não se ouvir sua palavra.

A acolhida mais importante é a feita à Palavra de Deus. Ela irá nos ensinar a acolher todas as pessoas. Contudo, seremos mais felizes se estivermos no seguimento de Abraão e de Maria, acolhendo a Palavra nos dois sentidos: tanto em escutar o Senhor, a Palavra encarnada, como em servi-la com nossos préstimos, deixando que ela fale através de nossos gestos, deixando o Verbo encarnar em nós, como fez Maria de Nazaré.

(Fonte: Informativo da Radio Vaticana)

Segunda, 26 Julho 2010 21:25

Reflexão ara o 17º Domingo do Tempo Comum

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Cidade do Vaticano, 24 julho - A leitura do Gênesis falando da intercessão que Abrãao faz a Deus pelos seus conterrâneos, serve para nós como incentivo para uma oração bem feita. 

Abrãao dialoga com Deus, suplica, apresenta suas razões, escuta, volta a falar, enfim são dois amigos conversando através de um diálogo espontâneo e sincero.

No Evangelho, os discípulos pedem a Jesus que os ensine a rezar. Jesus começa dizendo que quando quiserem rezar, deverão se dirigir a Deus chamando-O de Pai, pois Ele é o nosso querido Pai. Jesus dá um passo gigantesco em relação a Abraão. Se esse já demonstrava confiança e intimidade, Jesus recomenda o posicionamento de filho que conversa com o Pai querido.

Simultaneamente, demonstramos que, de fato, somos seus filhos, quando pedimos que o seu Reino, ou seja, os seus planos e seus projeto também sejam nossos, sejam realizados. Estamos comprometidos com a realização da nova sociedade.

Ao mesmo tempo, nos ensina que somos irmãos, por isso o pedido do pão para cada dia, feito também na primeira pessoa do plural - no nós - siginificando que assumimos como nossas, as necessidades dos demais, seja de alimento, de moradia, de saúde, de educação, de emprego e de justiça.

Nossa filiação se torna mais autêntica, quando pedimos para que perdoe as nossas ofensas, do mesmo modo que perdoamos aos que nos ofenderam. “Filho de peixe, peixinho é” - diz o ditado! Filho de um misericordioso, também é misericordioso! Filho de um Deus perdão, também perdoa!

Abrãao foi muito humilde em sua oração. Jesus também nos indica a humildade quando nos orienta a pedir ao Pai que não nos deixe cair em tentação. Se Deus não nos ajudar, nada conseguiremos, somos fracos, somos pó.

Finalmente, o ensinamento de Jesus termina com o resultado de nossa oração, com a certeza de quem pede, recebe: quem procura, encontra; para quem bate, se abrirá. Pedi e recebereis!

É preciso confiar em Deus, reconhecê-lo como Pai e Pai querido.

Fonte: Rádio Vaticana

Sexta, 14 Mai 2010 03:00

Unidos pela Vida

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E se além de unir nossas forças físicas na promoção da Cultura da Vida, nós pudéssemos estar juntos também espiritualmente?

Este é o objetivo desta seção, propor e incentivar ações pessoais que possam alimentar nossa unidade, no lugar onde estivermos, e, ao mesmo tempo, ser agradáveis ao Deus da Vida.

Una-se a nós com suas orações, sacrifícios e ações!

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