No estágio atual da campanha pró-aborto, o argumento mais comum é de que a legalização ajudará a salvar centenas de milhares de mulheres que morrem ao fazer o procedimento de modo inseguro. Em razão disso, o aborto se travestiria de “direito humano”. Esse argumento, no entanto, passa ao largo da lógica: a mulher que não aborta não corre risco nenhum na maioria das circunstâncias.
Manter o aborto proibido, com penalização, e impedir a sua realização nos hospitais tem um intuito: desestimulá-lo. Quem é contra o aborto está, sim, defendendo a vida da criança, mas também a vida da mulher. A cada aborto não realizado, a cada gravidez que se conclui de maneira natural e positiva, salvam-se duas vidas, e não uma. Já a cada aborto concluído da forma como se espera, uma vida está perdida. Como apoiar uma coisa dessas?
Então, porque aqueles que defendem a legalização do aborto não mudam de lado e, em vez de defender boas condições sanitárias para matar uma criança, não procuram convencer cada mulher a não abortar? Porque, na prática, quem defende a legalização do aborto defende o aborto em si. A preocupação com a saúde da mulher é mera falácia (embora nem sempre uma falácia consciente). O que interessa mesmo é a morte da criança (ou, como estão querendo dizer agora, a “profilaxia da gravidez”).
É uma imensa tragédia quando uma mulher morre em consequência de um aborto. Mas qualquer aborto, em si, já é uma tragédia. Para defender as mulheres é preciso lutar para que não abortem. Isso, é verdade, envolve muita coisa. Mas só estaremos defendendo os direitos humanos de forma integral se começarmos a enfrentar a questão. Muitas razões podem levar uma mulher a abortar: desamparo psicológico (por falta de perspectivas, ou por ter sido vítima de violência, etc); a situação financeira; ou a ideologia e o mero egoísmo… É vital ajudar essas mulheres, seja psicologicamente, seja financeiramente, ou de que outras formas for necessário, para que concluam a gravidez e criem com amor suas crianças. Empurrá-las para o aborto, mesmo o aborto “sanitariamente correto”, não lhes fará bem nenhum: sempre as deixará com um trauma.
Não estou entrando aqui na questão da “livre escolha”: não acredito nisso. A criança na barriga da mãe é um ser humano pleno, com direito à vida. Quando se fala em livre escolha, se está falando em usar o aborto como método contraceptivo, o que é absurdamente indigno.
O que defendo não é que se deixe as mulheres morrerem em abortos mal feitos, como se isso fosse uma espécie de punição pelo ato. Seria ridículo e perverso. O que defendo é que não sejam criadas condições que facilitem e estimulem o aborto, e que se busque sempre dissuadir – por meio do convencimento e do acolhimento – a realização de qualquer aborto.
Pergunta-se: e as mulheres que abortam? O que fazer com elas? Só uma coisa é possível: acolhê-las com generosidade e carinho, procurar ajudá-las a superar o trauma – e a não fazer mais isso. Não acho que devam ser presas. Mas também não defendo a descriminalização. Primeiro, porque a qualificação de um ato como crime, com respectiva pena, tem um peso cultural enorme e, sim, ajuda a impedir abortos. Segundo, porque se o aborto deixar de ser crime, logo haverá a pressão para realizá-lo no SUS. Em decorrência disso, o aborto deve, sim, ser crime, mesmo que não se faça nada para punir quem o comete.
Resumindo: vamos salvar todos: as mulheres e as crianças. Vamos lutar contra o aborto. Unamo-nos nessa luta em vez de nos empenharmos em disputas ideológicas, em querelas cotidianas sobre conservadorismo e progressivismo.
Fonte: Blog do Domonte