O grupo quer ajudar os profissionais da área a testemunharem a fé católica nas diversas realidades do sistema de saúde do Distrito Federal.
Dom Sergio da Rocha, arcebispo metropolitano de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), vai inaugurar no próximo domingo, 15 de novembro, a Associação de Médicos Católicos de Brasília (AMCB). No Brasil, as principais associações de médicos católicos estão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Ceará. No mundo, a Federação Internacional de Associações de Médicos Católicos (Fiamc) contabiliza mais de 40 entidades nos cinco continentes.
Em Brasília, a ideia de fundar uma associação surgiu nos encontros de formação e oração promovidos pela Comissão Arquidiocesana de Bioética e Defesa da Vida. Na ocasião, dom Sergio incentivou a proposta que já rende frutos para a Igreja local.
A fundação acontece durante a 5ª Manhã de Oração e Reflexão, que também conta com a presença de dom José Aparecido Gonçalves, bispo auxiliar de Brasília. A programação começa às 8h30, com uma celebração eucarística na Catedral Nossa Senhora Aparecida.
De lá, os participantes seguem para a Cúria Metropolitana onde poderão conhecer os projetos, o estatuto e a diretoria da Associação. A fundação incluirá promessas solenes dos médicos associados.
Cláudio Bernardo de Freitas, ginecologista-obstetra, toma posse como diretor da Associação no dia 15. Formado em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1973, ele se mostra preocupado com os rumos que vários colegas da área tomam, se abstendo de princípios éticos fundamentais nas decisões médicas.
O site da Arquidiocese conversou com Cláudio sobre a criação da Associação e os desafios que ela deve enfrentar.
O porquê de uma Associação de Médicos Católicos
“Na minha percepção, a nossa cultura ocidental está trocando a ética por uma pauta moral sem fundamentação lógica ou sistêmica traduzida na expressão ‘politicamente correto’, construída em lugar incerto e não sabido por pessoas que não dão as caras. Nesta onda, vai toda a sociedade, ou parte dela. Os médicos não ficaram fora desta influencia desastrosa. As mudanças no Código de Ética Médica, feitas nas últimas décadas, são preocupantes. Assim, é importante que nós, médicos, manifestemos o compromisso com os princípios que sempre foram o sustentáculo da dignidade da nossa profissão. Além disso, a Arquidiocese, que tem a verdade científica como um aspecto da sabedoria de Deus, manifestou-nos a necessidade de ter sempre atualizadas as suas informações sobre os avanços da ciência médica. Em acréscimo, nós médicos católicos apreciamos muito a nossa convivência, inclusive para trocar experiências clínicas e ajuda mútua nas nossas atividades profissionais e filantrópicas”.
Atividades da Associação
“O primeiro esforço será de congregar um número expressivo de médicos. Uns duzentos, em Brasília. Também precisamos nos conhecer melhor e formar consensos. Destes, tomar as prioridades de ação. Uma diretoria fundadora tem este tipo de missão. É certo que desafios vão aparecer e serão enfrentados, como demandas de esclarecimento científico à Arquidiocese, participação em formações do clero, religiosos e leigos, entre outras. Já temos trocado informações e ajudas nos nossos grupos sociais eletrônicos. Também temos nos articulado em atividades filantrópicas promovidas pela Igreja. Elaboramos um importante documento em uma consulta pública do Ministério da Saúde. Fizemos alguns seminários: o mais importante tratou da ocorrência de burn out entre os médicos. Enfim, creio que estas atividades vão aparecer ainda mais”.
Desafios do médico católico
“Quando eu me formei, o Código de Ética Médica dizia que o trabalho do médico somente deveria beneficiar o paciente e o próprio médico. Hoje, isto soa como um delírio. O trabalho do médico está inserido, debilmente, numa rede de interesses econômicos e também políticos. O corpo médico perdeu muito de sua força e dignidade. Seu trabalho é, via de regra, comandando por empresas e pelos interesses políticos dos governos. Ele próprio tende a supervalorizar a sua remuneração, como medida do sucesso e recompensa profissional.
O outro desafio é conviver com a banalização da vida e do corpo humano. A sacralidade da vida e do corpo humano é o que tornava a medicina uma ciência especial. Hoje, temos a impressão que o corpo – desde o ovo – de um animal em extinção parece mais importante que o humano. Certamente o ovo da tartaruga é mais protegido que o humano. Isto parece confundir também parte dos médicos e da população. As pessoas somente percebem isso quando precisam muito de um médico que as trate como coisa sagrada, de valor absoluto.
O terceiro desafio que me ocorre é a ampla circulação das informações médicas. Isto tem um impacto muito positivo, mas também tem trazido problemas para os médicos. Sim, porque esta circulação geralmente vem pela mídia, que, como sabemos, vende audiência e tem nela seu patrimônio. Assim passa informações impactantes com objetivo maior de atrair atenção, muitas vezes com promessas de curas que são somente possibilidades. A educação em saúde é outra coisa. O próprio erro médico é tratado de forma sensacional e, por vezes, muito injusta. De qualquer forma, a internet provocou grande mudança nos conhecimentos dos pacientes, paralelamente ao que lhe passa o seu médico, e também como fonte de instrução dos próprios médicos. Ou seja, vieram oportunidades e desafios que temos que enfrentar, sem saudosismo”.
Por Lilian da Paz
Fonte: www.arquidiocesedebrasilia.org.br