Texto Mário Carparelli
No exercício do ministério sacerdotal missionário estive em Mugoiri, no Quénia, entre 1978 e 1981. Numa das visitas às aldeias, encontrei numa palhota uma viúva católica muito triste, porque tinha sido violada e encontrando-se grávida, planeava fazer um aborto, porque era pobre e tinha já outros filhos. Consolei-a e aconselhei-a a não levar a cabo essa intenção. Seis anos após o regresso das missões no Quénia, em 2006, recebi, com surpresa, um e-mail, em inglês, de uma religiosa africana, que não conhecia. O conteúdo da mensagem encheu-me de alegria e de muita consolação.
Dizia o seguinte: «Caro padre Mário.Queria dar graças a Deus por ti. Todas as vezes que penso naquilo que sou, eu te agradeço. Chamo-me irmã N.N. da Congregação das Irmãs Emmanuele. Nasci na diocese de Murang’a. Quando eras pároco em Mugoiri, aconteceu que um dia, girando pela minha aldeia, visitaste e ajudaste uma mulher chamada T.W., a qual sendo então viúva se encontrava grávida. Ela pensou em fazer um aborto, mas tu consolaste-a com tais palavras que ela nunca mais esqueceu e que me repetia a mim, a última nascida».
«Eis as palavras: ‘Não abortes. O filho de uma viúva violentada, dada a sua vulnerabilidade, é como o primeiro filho de uma mulher jovem’. Consolada pelas tuas palavras, ela deu à luz uma menina, e agora digo-te que sou eu própria essa menina que nasceu fora do matrimónio! Aquilo que aconteceu já não me interessa agora, mas aquilo que mais importa é que tu ajudaste uma mãe a aceitar-me e que ela prestou atenção às tuas palavras e por isso estou grata à minha mãe, a ti e também àquele homem que a engravidou, mesmo sabendo que foi contra a sua vontade. Espero que te lembres ainda da minha mãe. Os meus agradecimentos!»
Mais tarde, depois da minha resposta ao e-mail, a religiosa envia uma nova mensagem: «Tchau, ‘papá’. Obrigado por teres tomado conhecimento do meu e-mail, e obrigado pela promessa de me recordares nas tuas orações, a mim e à minha querida mãe […]. Tudo isto me tem ajudado e influenciado na fidelidade à minha vocação. Nossa Senhora, a minha Mãe Consoladora e Mãe de Jesus, ajudou-me a levar a cabo a minha missão. Com a ajuda do nosso bispo, não hesitei em pôr-me em contacto contigo, meu caro padre, para te dar conhecimento do importante papel que desempenhaste na minha vida».
«Efetivamente, tu regaste e nutriste a semente da minha vocação numa menina desesperada e sem voz. Padre Mário, eu não tenho vergonha de te chamar ‘meu papá’, porque salvaste a minha vida. Só Deus te pode agradecer suficientemente pelo que fizeste. Que Ele te abençoe largamente. O Senhor que é bom e que conhece a sinceridade e a vontade dos corações jovens e velhos, encontrará vocações para o teu Instituto. Que Jesus e Maria te guiem e fortaleçam em tudo aquilo que fazes. Mais uma vez, obrigado.»
Fonte: Fátima Missionária