Sábado, 02 Outubro 2010 13:08

27º Domingo do Tempo Comum

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Evangelho do domingo: é grátis

 

Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo

 

OVIEDO, quinta-feira, 30 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste domingo (Lucas 17,5-10 ), 27º do Tempo Comum.

* * *

Estão Jesus e os discípulos face a face e se apresenta um tema tão básico como o da fé. Eles veem a desproporção entre o que o Mestre propõe e o que, de fato, suas vidas oferecem. Daí aquela petição com humilde realismo por parte daqueles homens: "Aumenta a nossa fé". É a experiência de vertigem diante de Alguém grande, diante de um mestre diferente em Israel.

Jesus provoca seus discípulos de fé fraca, utilizando o recurso do paradoxo: crer até no impossível - que uma amoreira se arranque da terra e se plante no mar. Sem dúvida, ficariam completamente desconcertados. Porque crer não é uma postura fingida, mas a adesão da pessoa inteira. A fé que ia se derivando como condição para ser discípulo de Jesus não era uma questão periférica para os momentos de apuro e dificuldade, mas uma fé para todo momento, aconteça o que acontecer: o que é impossível para vós é possível para Deus.

Em segundo lugar, uma fé que é um dom. A adesão a Deus, que transforma em possíveis os impossíveis, não é resultado do empenho, nem do nobre esforço, mas uma graça que Deus concede a quem a pede e a acolhe. Assim, é impróprio estabelecer um preço àquilo que se recebe gratuitamente. É o que Jesus explica com o exemplo do criado do campo: "Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer".

Hoje, Jesus também nos provoca, quando vemos tantos impossíveis no nosso mundo: violências, guerras, corrupções, fomes, desencantos... Não é um desafio à nossa habilidade ou estratégia, mas à nossa fé, porque a solução para as nossas dificuldades não depende simplesmente dos nossos estratagemas ou truques, mas da realização do projeto de Deus sobre a história, isto é, o Reino.

Ter fé é aderir a Deus e ao seu projeto, tornando-o realidade, sonho cumprido e não pesadelo a ser esquecido. É apaixonar-se por esse plano divino, com todo o coração e com toda a inteligência. No final de tudo, não poderemos argumentar diante de Deus que lhe fizemos um favor por termos acreditado n'Ele e termos colaborado na realização do seu projeto. E não poderemos lhe cobrar a fatura ou os honorários, porque ser humanos e ser crentes é o que tínhamos de ser, pois nascemos para isso. Sem dúvida, também nós, que chegamos a este ponto de ver como é a nossa fé, acabamos dizendo o mesmo que os discípulos: "Senhor, aumenta a nossa fé!"

Sábado, 02 Outubro 2010 12:45

São Tarcísio - Catequese do Papa Bento XVI

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sao_tarcisioSão Tarcísio

Prezados irmãos e irmãs

Desejo manifestar a minha alegria por estar hoje aqui no meio de vós, nesta Praça, onde vos congregastes em festa para a presente Audiência geral, que conta com uma presença tão significativa da grande Peregrinação europeia dos acólitos! Amados rapazes, moças e jovens, sede bem-vindos! Dado que a vasta maioria dos acólitos presentes na Praça são de expressão alemã, dirigir-me-ei a eles principalmente na minha língua materna.

Queridos acólitos e queridas acólitas, caros amigos e estimados peregrinos de língua alemã, bem-vindos aqui a Roma! Saúdo todos vós do íntimo do coração. Juntamente convosco, saúdo o Cardeal Secretário de Estado, Tarcisio Bertone; ele chama-se Tarcísio, como o vosso Padroeiro. Tivestes a gentileza de o convidar, e ele, que tem o nome de São Tarcísio, sente-se feliz por estar aqui no meio dos acólitos do mundo e entre os acólitos de expressão alemã. Saúdo os dilectos Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, bem como os Diáconos, que quiseram participar na presente Audiência. Agradeço de coração ao Bispo Auxiliar de Basileia, D. Martin Gächter, Presidente do "Coetus internationalis ministrantium", as palavras de saudação que me dirigiu, o grandioso dom da estátua de São Tarcísio e o lenço que me ofereceu. Tudo isto me faz recordar o período em que também eu fui um menino de coro. Agradeço-lhe, em vosso nome, também o grande trabalho que ele realiza no meio de vós, juntamente com os colaboradores e com quantos tornaram possível este alegre encontro. Depois, dirijo o meu agradecimento aos promotores suíços e àqueles que trabalharam de vários modos para a realização da estátua de São Tarcísio.

Sede numerosos! Já quando sobrevoei a Praça de São Pedro de helicóptero pude ver todas as cores e a alegria que está presente nesta Praça! Desde modo, vós não apenas criais um ambiente de festa nesta Praça, mas alegrais ainda mais o meu coração! Obrigado! A estátua de São Tarcísio chegou até nós após uma longa peregrinação. Em Setembro de 2008 foi apresentada na Suíça, na presença de 8.000 acólitos:  sem dúvida, alguns de vós estavam lá presentes. Da Suíça, ela passou por Luxemburgo e chegou até à Hungria. Hoje, nós recebemo-la festivos, contentes por poder conhecer melhor esta figura dos primeiros séculos da Igreja. Depois a estátua – como já nos disse D. Gächter – será colocada nas catacumbas de São Calisto, onde São Tarcísio foi sepultado. Os bons votos que formulo a todos vós é a fim de que aquele lugar, ou seja, as catacumbas de São Calisto e esta estátua, possa tornar-se assim um ponto de referência para os acólitos e para aqueles que desejam seguir Jesus mais de perto através da vida sacerdotal, religiosa e missionária. Todos podem olhar para este jovem corajoso e forte, renovando o compromisso de amizade com o próprio Senhor para aprender a viver sempre com Ele, seguindo o caminho que ele nos indica com a sua Palavra e o testemunho de numerosos santos e mártires dos quais, por intermédio do Baptismo, nos tornamos irmãos e irmãs.

Quem era São Tarcísio? Não dispomos de muitas notícias dele. Encontramo-nos nos primeiros séculos da história da Igreja, mais precisamente no século III; narra-se que ele era um jovem que frequentava as Catacumbas de São Calisto, aqui em Roma, e era muito fiel aos seus compromissos cristãos. Ele amava muito a Eucaristia e, de vários elementos, concluímos que, presumivelmente, era um acólito, ou seja, um ministrante. Eram anos em que o imperador Valeriano perseguia duramente os cristãos, que eram obrigados a reunir-se escondidos nas casas particulares ou, às vezes, até mesmo nas Catacumbas, para ouvir a Palavra de Deus, rezar e celebrar a Santa Missa. Também o hábito de levar a Eucaristia aos prisioneiros e aos enfermos se tornava cada vez mais perigosa. Certo dia, quando o sacerdote perguntou como geralmente fazia quem estava disposto a levar a Eucaristia aos outros irmãos e irmãs que a esperavam, o jovem Tarcísio ergueu-se e disse:  "Envia-me a mim!". Aquele rapaz parecia demasiado jovem para um serviço tão exigente! "A minha juventude – retorquiu Tarcísio – será a melhor salvaguarda para a Eucaristia". Persuadido, o sacerdote confiou-lhe então aquele Pão precioso, dizendo-lhe:  "Tarcísio, recorda-te que um tesouro celestial está a ser confiado aos teus frágeis cuidados. Evita os caminhos frequentados e não te esqueças de que as coisas santas não devem ser lançadas aos cães, nem as jóias aos porcos. Conservarás com fidelidade e segurança os Sagrados Mistérios?". "Morrerei – respondeu com determinação Tarcísio – antes de os ceder!". Ao longo do caminho, encontrou pela estrada alguns amigos que, aproximando-se dele, lhe pediram para se unir a eles. Quando a sua resposta foi negativa eles – que eram pagãos – começaram a suspeitar e a insistir, e observaram que ele apertava ao peito algo que parecia defender. Em vão procuraram arrancar-lhe o que ele trazia; a luta fez-se cada vez mais furiosa, sobretudo quando vieram a saber que Tarcísio era cristão; começaram a dar-lhe pontapés e lançaram-lhe pedras, mas ele não cedeu. Em agonia, foi levado ao sacerdote por um oficial pretoriano chamado Quadrato que, ocultamente, também viria a tornar-se cristão. Chegou ali sem vida, mas apertado ao peito ainda conservava um pequeno pedaço de linho com a Eucaristia. Foi sepultado imediatamente nas Catacumbas de São Calisto. O Papa Dâmaso mandou fazer uma inscrição para o túmulo de São Tarcísio, segundo a qual o jovem morreu no ano 257. O Martirológio Romano fixa a sua data no dia 15 de Agosto, e no mesmo Martirológio inclui-se também uma bonita tradição oral, segundo a qual no corpo de São Tarcísio não foi encontrado o Santíssimo Sacramento, nem nas mãos, nem na sua roupa. Explicou-se que a partícula consagrada, defendida com a vida pelo pequeno mártir, se tinha tornado carne da sua carne, formando de tal modo com o seu corpo uma única hóstia imaculada, oferecida a Deus.

Amadas acólitas e amados acólitos, o testemunho de São Tarcísio e esta bonita tradição ensinam-nos o profundo amor e a grande veneração que temos de alimentar pela Eucaristia:  trata-se de um bem precioso, um tesouro cujo valor não se pode medir, é Pão da vida, é o próprio Jesus que se faz alimento, sustentáculo e força para o nosso caminho de todos os dias e vereda aberta para a vida eterna; é o maior dom que Jesus nos deixou.

Dirijo-me a vós aqui presentes e, por meio de vós, a todos os acólitos do mundo! Servi com generosidade Jesus presente na Eucaristia. É uma tarefa importante, que vos permite permanecer particularmente próximos do Senhor e crescer numa amizade verdadeira e profunda com Ele. Conservai ciosamente esta amizade no vosso coração, como fez São Tarcísio, prontos a comprometer-vos, a lutar e a dar a vossa vida para que Jesus chegue a todos os homens. Também vós, comunicai aos vossos coetâneos o dom desta amizade, com alegria e com entusiasmo, sem medo, a fim de que eles possam sentir que vós conheceis este Mistério, que é verdadeiro e que o amais! Cada vez que vos aproximais do altar, tendes a sorte de assistir ao grande gesto de amor de Deus, que continua a desejar entregar-se a cada um de nós, a estar próximo de nós, a ajudar-nos, a incutir-nos a força para que possamos viver bem. Mediante a consagração – bem o sabeis – aquela pequena partícula de pão torna-se o Corpo de Cristo e aquele vinho torna-se o Sangue de Cristo. Tendes a ventura de poder viver próximos desde mistério inefável! Desempenhai com amor, com devoção e com fidelidade a vossa tarefa de acólitos; não entreis na igreja para a Celebração com superficialidade, mas preparai-vos interiormente para a Santa Missa! Ajudando os vossos sacerdotes no serviço do altar, vós contribuís para tornar Jesus mais próximo, de tal modo que as pessoas possam sentir e dar-se conta disto em maior medida:  Ele está aqui; vós colaborais a fim de que Ele possa estar mais presente no mundo, na vida de todos os dias, na Igreja e em todos os lugares. Amados amigos! Vós ofereceis a Jesus as vossas mãos, os vossos pensamentos e o vosso tempo. Ele não deixará de vos recompensar, concedendo-vos a alegria verdadeira e fazendo-vos sentir onde reside a felicidade mais completa. São Tarcísio mostrou-nos que o amor nos pode levar até à entrega da vida por um bem autêntico, pelo bem genuíno, pelo Senhor.

A nós, provavelmente, não será pedido o martírio, mas Jesus pede-nos a fidelidade nas pequenas coisas, o recolhimento interior, a participação íntima, a nossa fé e o esforço para conservar presente este tesouro na nossa vida diária. Pede-nos a fidelidade nos afazeres quotidianos, o testemunho do seu amor, frequentando a Igreja movidos por uma convicção interior e pela alegria da sua presença. Assim podemos fazer conhecer também aos nossos amigos que Jesus está vivo. Que neste compromisso sejamos ajudados pela intercessão de São João Maria Vianney, de quem hoje celebramos a memória litúrgica, desde humilde Pároco da França, que transformou uma pequena comunidade e deste modo ofereceu ao mundo uma nova luz. O exemplo dos Santos Tarcísio e João Maria Vianney nos leve a amar Jesus cada dia e a cumprir a sua vontade, como fez a Virgem Maria, fiel ao seu Filho até ao fim. Uma vez mais, obrigado a todos vós! Que Deus vos abençoe nestes dias e bom regresso aos vossos países!

Praça de São Pedro, 4 de agosto de 2010.

Sábado, 02 Outubro 2010 12:27

Clara de Assis - Catequese do Papa Bento XVI

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Santa_Clara_de_AssisClara de Assis

Prezados irmãos e irmãs

Uma das Santas mais amadas é, sem dúvida, Santa Clara de Assis, que viveu no século XIII, contemporânea de São Francisco. O seu testemunho mostra-nos como a Igreja inteira é devedora a mulheres intrépidas e ricas de fé como ela, capazes de dar um impulso decisivo para a renovação da Igreja.

Portanto, quem era Clara de Assis? Para responder a esta pergunta, dispomos de fontes seguras: não apenas das antigas biografias, como a de Tomás de Celano, mas também das Actas do processo de canonização promovido pelo Papa só poucos meses depois da morte de Clara e que contém os testemunhos daqueles que viveram ao seu lado durante muito tempo.

Tendo nascido em 1193, Clara pertencia a uma família aristocrática e rica. Renunciou à nobreza e à riqueza para viver humilde e pobre, seguindo a forma de vida proposta por Francisco de Assis. Embora os seus parentes, como acontecia nessa época, começavam a programar para ela um matrimónio com uma personalidade importante, Clara, com 18 anos de idade, com um gesto audaz inspirado pelo profundo desejo de seguir Cristo e pela admiração que tinha por Francisco, deixou a casa paterna e, em companhia de uma das suas amigas, Bona de Guelfuccio, uniu-se secretamente aos frades menores na pequena igreja da Porciúncula. Era a tarde do Domingo de Ramos de 1211. Na comoção geral, foi levado a cabo um gesto profundamente simbólico: enquanto os seus companheiros seguravam nas mãos algumas tochas acesas, Francisco cortou-lhe os cabelos e Clara vestiu o rude hábito penitencial. A partir daquele momento, ela tornou-se a virgem esposa de Cristo, humilde e pobre, consagrando-se totalmente a Ele. Como Clara e as suas companheiras, inúmeras mulheres ao longo da história ficaram fascinadas pelo amor a Cristo que, na beleza da sua Pessoa divina, enche o seu coração. E a Igreja inteira, por intermédio da mística vocação nupcial das virgens consagradas, mostra-se como sempre será: a Esposa bonita e pura de Cristo.

Numa das quatro cartas que Clara enviou a Santa Inês de Praga, filha do rei da Boémia, que desejava seguir os seus passos, fala de Cristo, seu amado Esposo, com expressões nupciais que podem causar admiração, mas que comovem: «Amando-o, és casta, tocando-o, serás pura, deixando-te possuir por Ele, és virgem. O seu poder é mais forte, a sua generosidade é mais elevada, o seu aspecto é mais excelso, o amor é mais suave e todas as graças mais sublimes. Já foste conquistada pelo seu abraço, que ornamentou o seu peito com pedras preciosas... coroando-te com um diadema de ouro, marcado com o sinal da santidade» (Primeira Carta: FF, 2862).

Principalmente no início da sua experiência religiosa, Clara encontrou em Francisco de Assis não apenas um mestre cujos ensinamentos devia seguir, mas inclusive um amigo fraterno. A amizade entre estes dois santos constitui um aspecto muito bonito e importante. Com efeito, quando se encontram duas almas puras e inflamadas pelo mesmo amor a Deus, elas haurem da amizade recíproca um estímulo extremamente forte para percorrer o caminho da perfeição. A amizade é um dos sentimentos humanos mais nobres e elevados que a Graça divina purifica e transfigura. Como São Francisco e Santa Clara, também outros Santos viveram uma profunda amizade no caminho rumo à perfeição cristã, como São Francisco de Sales e Santa Joana Francisca de Chantal. E é precisamente São Francisco de Sales que escreve: «É bom poder amar na terra como se ama no céu, e aprendermos a amar neste mundo como havemos de fazer eternamente no outro. Aqui não me refiro ao simples amor de caridade, porque temos que ter este amor por todos os homens; refiro-me à amizade espiritual, no âmbito da qual duas, três ou mais pessoas permutam entre si a devoção e os afectos espirituais, tornando-se realmente um só espírito» (Introdução à vida devota, III, 19).

Depois de ter transcorrido um período de alguns meses no interior de outras comunidades monásticas, resistindo às pressões dos seus familiares que inicialmente não aprovaram a sua escolha, Clara estabeleceu-se com as primeiras companheiras na igreja de São Damião, onde os frades menores tinham organizado um pequeno convento para si mesmos. Naquele mosteiro ela viveu por mais de quarenta anos, até à morte, ocorrida em 1253. Dispomos de uma descrição de primeira mão, sobre o modo como estas mulheres viviam naqueles anos, nos primórdios do movimento franciscano. Trata-se do relatório admirado de um bispo flamengo em visita à Itália, D. Tiago de Vitry, que afirma ter-se encontrado com um grande número de homens e mulheres, de todas as classes sociais que, «deixando tudo por Cristo, fugiam do mundo. Chamavam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo Senhor Papa e pelos cardeais... As mulheres... vivem juntas, em diversos hospícios não distantes das cidades. Nada recebem, mas vivem do trabalho das suas próprias mãos. E sentem-se profundamente amarguradas e incomodadas, porque são honradas mais do que desejariam por clérigos e leigos» (Carta de Outubro de 1216: FF, 2205.2207).

Tiago de Vitry tinha reconhecido com perspicácia uma característica da espiritualidade franciscana, à qual Clara era muito sensível: a radicalidade da pobreza, associada à confiança total na Providência divina. Por este motivo, ela agiu com grande determinação, obtendo da parte do Papa Gregório IX ou, provavelmente, já do Papa Inocêncio III, o chamado Privilegium paupertatis (cf. FF, 3279). Com base nisto, Clara e as suas companheiras de São Damião não podiam possuir qualquer propriedade material. Tratava-se de uma excepção verdadeiramente extraordinária em relação ao direito canónico então em vigor, e as autoridades eclesiásticas daquela época concederam-no, valorizando os frutos de santidade evangélica, que reconheciam no estilo de vida de Clara e das suas irmãs. Isto demonstra que, também nos séculos da Idade Média, o papel das mulheres não era secundário, mas considerável. A este propósito, é útil recordar que Clara foi a primeira mulher na história da Igreja que compôs uma Regra escrita, submetida à aprovação do Papa, para que o carisma de Francisco de Assis fosse conservado em todas as comunidades femininas, que se iam estabelecendo em grande número já naquela época e que desejavam inspirar-se no exemplo de Francisco e de Clara.

No convento de São Damião, Clara praticou de maneira heróica as virtudes que deveriam distinguir cada cristão: a humildade, o espírito de piedade e de penitência, a caridade. Não obstante fosse a superiora, ela queria servir pessoalmente as irmãs enfermas, sujeitando-se inclusive a tarefas extremamente humildes: com efeito, a caridade ultrapassa qualquer resistência, e quem ama realiza todo o sacrifício com alegria. A sua fé na presença real da Eucaristia era tão grande que, por duas vezes, se verificou um acontecimento milagroso. Só com a ostensão do Santíssimo Sacramento, ela afugentou os soldados mercenários sarracenos, que estavam prestes a invadir o convento de São Damião e a devastar a cidade de Assis.

Também estes episódios, assim como outros milagres dos quais se conservava a memória, impeliram o Papa Alexandre IV a canonizá-la apenas dois anos depois da sua morte, em 1255, delineando um seu elogio na Bula de canonização, em que lemos: «Como é vivo o poder desta luz e como é forte a resplandecência desta fonte luminosa! Na realidade, esta luz mantinha-se fechada no escondimento da vida claustral, enquanto fora irradiava clarões luminosos; recolhia-se num mosteiro angusto, enquanto fora se difundia em toda a vastidão do mundo. Conservava-se dentro e propagava-se fora. Com efeito, Clara escondia-se, mas a sua vida era revelada a todos. Clara calava-se, mas a sua fama clamava» (FF, 3284). E é precisamente assim, estimados amigos: são os Santos que mudam o mundo para melhor, que o transformam de forma duradoura, infundindo as energias que unicamente o amor inspirado pelo Evangelho pode suscitar. Os Santos são os grandes benfeitores da humanidade!

A espiritualidade de Santa Clara, a síntese da sua proposta de santidade é condensada na quarta Carta a Santa Inês de Praga. Santa Clara recorre a uma imagem muito difundida na Idade Média, de ascendências patrísticas: o espelho. E convida a sua amiga de Praga a reflectir-se naquele espelho de perfeição de todas as virtudes, que é o próprio Senhor. Ela escreve: «Sem dúvida, feliz é aquela a quem é concedido beneficiar desta sagrada união, para aderir com o profundo do coração [a Cristo], Àquele cuja beleza é admirada incessantemente por todas as bem-aventuradas plêiades dos céus, cujo afecto apaixona, cuja contemplação restabelece, cuja benignidade sacia, cuja suavidade satisfaz, cuja recordação resplandece suavemente, diante de cujo perfume os mortos voltarão à vida e cuja visão gloriosa tornará bem-aventurados todos os cidadãos da Jerusalém celeste. E dado que Ele é esplendor da glória, candura da luz eterna e espelho sem mancha, olha todos os dias para este espelho, ó rainha esposa de Jesus Cristo, e nela perscruta continuamente o teu rosto, para que assim tu possas adornar-te inteiramente no interior e no exterior... Neste espelho refulgem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade» (Quarta Carta: FF, 2901-2903).

Gratos a Deus que nos doa os Santos que falam ao nosso coração e nos oferecem um exemplo de vida cristã a imitar, gostaria de concluir com as mesmas palavras de bênção que Santa Clara compôs para as suas irmãs de hábito e que ainda hoje as Clarissas, desempenhando um papel precioso na Igreja com a sua oração e a sua obra, conservam com grande devoção. São expressões em que sobressai toda a ternura da sua maternidade espiritual: «Abençoo-vos na minha vida e após a minha morte, como posso e mais do que posso, com todas as bênçãos com as quais o Pai da misericórdia abençoou e há-de abençoar no céu e na terra os filhos e as filhas, e com as quais um pai e uma mãe espiritual abençoaram e hão-de abençoar os seus filhos e as suas filhas espirituais. Amém!» (FF, 2856).

Sala Paulo VI, Quarta-feira, 15 de setembro de 2010.

Sábado, 28 Agosto 2010 21:10

Modéstia e Gratuidade

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A luta pelo poder e pelo “status” é característica do cotidiano de nossa sociedade materialista e hedonista, em que o ter, o prazer e o poder ocupam o lugar do sagrado. Por causa disto, quantas intrigas, extorsões, corrupção, violência!
Infelizmente, também nós, muitas vezes, como os comensais observados por Jesus, achamos que a posição é que faz o homem.
   

Freqüentemente, os ensinamentos de Jesus derivam de situações da vida real. Para fazer seus discípulos refletirem, Ele comparava os critérios e razões habituais do povo, como em São Lucas, 14,1.7-14, com os critérios de seu próprio Evangelho.
Orientados por falsos valores que somos capazes de assumir e defender, invertemos posições e significados em nossa vida, o que nos afasta cada vez mais da verdade, da justiça, do amor.
Jesus nos orienta a irmos ao encontro dos reais valores do Evangelho e do Reino de Deus. Sejamos audaciosos. Não nos deixemos enganar por padrões de comportamentos que dão a ilusão de grandeza, quando, na verdade, nos prendem a clichês pré-estabelecidos. No entendimento divino, tudo possui uma determinada ordem que nem sempre combina com os nossos critérios.
   

Os que freqüentam e participam ativamente das celebrações têm em comum a fé no Deus vivo e a esperança no Reino de Deus. No banquete da Eucaristia, todos são convidados por Jesus: “Amigo, venha mais para cima”, porque nele Deus se tornou próximo e íntimo. No pão partilhado, podemos experimentar a gratuidade de Deus com a humanidade.
   

A comunidade cristã é a reunião de consagrados a Deus e nossa fé nos garante, desde já, que nossos nomes estão inscritos no céu. Por isto, celebrar a fé significa acabar com os privilégios e discriminações, pois, no Reino de Deus, não há primeiros nem últimos. E, a exemplo de Jesus, se tivermos que privilegiar alguém, há de ser os excluídos (pobres, aleijados, mancos, velhos, etc). A Santa Eucaristia é o momento oportuno para entendermos que nosso Deus optou pelos marginalizados e nossa felicidade consiste em servi-los e promovê-los, à semelhança de Jesus, que está no meio de nós como aquele que serve, sem alarde, com simplicidade e modéstia.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG)

(fonte: Radio Vaticana)

Sexta, 27 Agosto 2010 21:26

A Auto-suficiência

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No mundo da ciência e da tecnologia, a palavra de ordem que comanda é a “perfeição”, a alta definição. Acontece que isto não satisfaz às exigências dos seus destinatários, isto é, a realização da felicidade da realidade social. As pessoas não têm sido mais felizes por isto. É sinal de que algo não está totalmente certo e perfeito.

De outro lado, temos os indicativos precisos da Palavra de Deus. Jesus convida as pessoas para que deixem a arrogância, a auto-suficiência, o querer ocupar os primeiros lugares e o ser melhor do que os outros. A forma de ser feliz passa por outros caminhos, pela prática da sabedoria e da gratuidade.

Não podemos nos conformar com uma cultura de “qualidade total” no seu instrumental de ação deixando na marginalidade os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos e desvalidos de hoje. Um tempo de prosperidade e de desenvolvimento não pode ser excludente a ponto de privilegiar alguns e não levar em conta a maioria da população.

Um mundo de igualdade, apesar dos direitos individuais adquiridos honestamente, leva a superar as desigualdades e a competição social que existe. Não é fácil entender e praticar a proposta do Evangelho quando diz que “o primeiro é aquele que serve, o maior é o último”. Nestas atitudes estão os autênticos valores para o cristão.

A sociedade capitalista vive num intercâmbio de favores. Ela negocia com quem é capaz de competir, deixando de lado o valor da gratuidade, do perdão a quem não pode pagar e da realidade do pobre. Esses últimos não têm lugar à mesa da classe abastada e privilegiada na posse de bens materiais.

O importante é viver com sabedoria, confiante em Deus e na humildade de coração. O afeto das pessoas e de Deus se conquista com os gestos simples de humildade, muito mais do que com presentes valiosos, mas sem a força do amor e da espiritualidade. Isto significa que os mistérios de Deus são revelados aos simples e não aos orgulhosos e auto-suficientes.

Dom Paulo Mendes Peixoto, 
Bispo de São José do Rio Preto

Segunda, 26 Julho 2010 21:42

Luzes e Sombras. D. Orani Tempesta, RJ.

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Luzes e Sombras

Rio de Janeiro, 24 jul (RJ) - Embora saibamos que a retroalimentação das notícias tem as razões econômicas e de audiência, os noticiários, no entanto, estão plenos de notícias violentas, mais do que o costumeiro. Poderíamos até discutir as opções editoriais, mas, sem dúvida, tudo isso nos faz pensar sobre tantas situações que machucam as pessoas só em ouvir alguns fatos. Não penso apenas em questões de violência local tramada friamente, mas em toda uma situação generalizada e em vários escalões. Não precisamos descrever as angústias e sobressaltos patentes nos acontecimentos que, como um raio e na mesma velocidade da luz, atingem-nos a todos no mesmo momento, quase que instantâneo, por uma mudança de época para a vida digital em que beneficia mais as relações virtuais do que as relações pessoais. Derrubam nossas crenças e sangram os corações daqueles que ainda têm um pouco de sensibilidade.

Desde os cataclismos da Natureza, dos terremotos, maremotos com os tsumanis, as torrentes dos céus que desabam sobre regiões inteiras espalhando a destruição e a morte, os atentados que como nuvens sombrias de terror e medo tolhem a liberdade de ir e vir, de gozar dos privilégios que a técnica nos põe disponíveis, até o convívio mais íntimo do amor que se destrói no escárnio à vida e ao que é mais sagrado aos corações, é o que nos atormenta e apavora.

Não é preciso descrevê-los. Abram os jornais, ligue-se a televisão, ouçam o rádio. A internet atualiza, segundo a segundo, as noticias nos computadores que, como que se deliciando em ampliar o tétrico, repetem e ampliam os fatos, dando-lhes contornos mais negros que a escuridão de uma noite de tempestade. Dizem que ninguém cria os fatos, e isso é verdade, mas ao escolhê-los para divulgar nós privilegiamos uma visão da vida e da sociedade.

Por que isso acontece, quando temos tudo a esperar do progresso e do desenvolvimento social? Pensávamos que o século XXI, com as novas técnicas e os passos dados pela humanidade, nos encontraria com um respeito maior ao ser humano e com possibilidade de convivência em paz entre os diferentes.

O homem não é apenas um ser natural. Superior a isto, é um ser cultural, um ser histórico. Dotado de inteligência, tem consciência de sua vida e traça seu destino, individual e coletivamente. Ao mesmo tempo é fruto do seu tempo e impulsiona o seu desenvolvimento ou o seu retrocesso. Acreditamos ainda mais – que é criado por Deus e tem uma vida eterna!
Ao criar-nos, Deus nos deu a liberdade. Ele apontou-nos os dois caminhos que podemos livremente escolher, o que nos leva à bênção e à felicidade, e o que conduz à destruição.

Na história, vez por vez, na civilização, a par da evolução do conhecimento e da técnica, transparece mais; na escolha individual e social a degradação, que traz consigo as terríveis consequências que levam ao caos e à morte. São resultados do que escolhemos. Abusamos da Natureza, saímos da estrada da reta utilização dos bens e recursos naturais, o egoísmo e a luxúria induzem-nos a desconhecer o outro e a seus direitos, e até a desprezar a nós mesmos. Enegrecemos a atmosfera com resíduos poluidores e temos o aquecimento global. Destruímos o mar com a falta de cuidado e atenção, tornando suas águas cristalinas em ondas negras que extinguem a vida. Extinguimos peixes e animais, quando não praticamos o genocídio para a seleção da espécie. Optamos pelo hedonismo desenfreado. A riqueza, encapsulada para uns poucos, escandalosamente roubada de quem trabalha honestamente. Em consequência, os danos nos achacam individual e coletivamente.

Como o Mestre, o cristão tem de chorar e lamentar sobre a cidade e clamar que o caminho é outro: “Ah! Se ao menos neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz” (cfr. Lc 19,21).

Um mundo que prega a morte das crianças no ventre da mãe não está formando o ser humano para o respeito à vida do outro. Os fatos irão demonstrando a que levam as opções que tanto difundem os antiquados defensores da morte como a busca de aprovação de leis injustas contra a pessoa humana.

O desenvolvimento somente se dará plenamente se soubermos respeitar o homem. Se o homem, reconhecendo a sua insuficiência, prostrar-se diante do Criador.

A nossa liberdade de escolha tem de ser direcionada para alvos superiores, de reconhecimento de que formamos uma só família e que a Terra é a nossa moradia comum. Abrir-nos decididamente para o próximo, reconhecer o seu direito e tudo dirigir segundo a sua finalidade.

Voltemos ao Evangelho! É tempo de nos voltarmos para o Deus da Vida e descobrir os valores transcendentais da pessoa humana. Na busca do progresso e desenvolvimento, a obrigação nossa, de seres a quem foi confiada a Terra, temos de ordenar tudo para o bem, para a realização plena de nossa natureza, como pessoa e como sociedade, até atingirmos a perfeição a que fomos destinados na liberdade de filhos de Deus, pela qual anseia toda a criação.

+ Orani João Tempesta,

O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Fonte: Rádio Vaticana

Segunda, 26 Julho 2010 21:25

Reflexão ara o 17º Domingo do Tempo Comum

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Cidade do Vaticano, 24 julho - A leitura do Gênesis falando da intercessão que Abrãao faz a Deus pelos seus conterrâneos, serve para nós como incentivo para uma oração bem feita. 

Abrãao dialoga com Deus, suplica, apresenta suas razões, escuta, volta a falar, enfim são dois amigos conversando através de um diálogo espontâneo e sincero.

No Evangelho, os discípulos pedem a Jesus que os ensine a rezar. Jesus começa dizendo que quando quiserem rezar, deverão se dirigir a Deus chamando-O de Pai, pois Ele é o nosso querido Pai. Jesus dá um passo gigantesco em relação a Abraão. Se esse já demonstrava confiança e intimidade, Jesus recomenda o posicionamento de filho que conversa com o Pai querido.

Simultaneamente, demonstramos que, de fato, somos seus filhos, quando pedimos que o seu Reino, ou seja, os seus planos e seus projeto também sejam nossos, sejam realizados. Estamos comprometidos com a realização da nova sociedade.

Ao mesmo tempo, nos ensina que somos irmãos, por isso o pedido do pão para cada dia, feito também na primeira pessoa do plural - no nós - siginificando que assumimos como nossas, as necessidades dos demais, seja de alimento, de moradia, de saúde, de educação, de emprego e de justiça.

Nossa filiação se torna mais autêntica, quando pedimos para que perdoe as nossas ofensas, do mesmo modo que perdoamos aos que nos ofenderam. “Filho de peixe, peixinho é” - diz o ditado! Filho de um misericordioso, também é misericordioso! Filho de um Deus perdão, também perdoa!

Abrãao foi muito humilde em sua oração. Jesus também nos indica a humildade quando nos orienta a pedir ao Pai que não nos deixe cair em tentação. Se Deus não nos ajudar, nada conseguiremos, somos fracos, somos pó.

Finalmente, o ensinamento de Jesus termina com o resultado de nossa oração, com a certeza de quem pede, recebe: quem procura, encontra; para quem bate, se abrirá. Pedi e recebereis!

É preciso confiar em Deus, reconhecê-lo como Pai e Pai querido.

Fonte: Rádio Vaticana

Terça, 20 Julho 2010 02:47

A moral no discurso aos jovens

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Bento 16, no discurso aos jovens no Pacaembu, ao falar moral, apresenta os mandamentos e a vida na bondade como um caminho para alcançar a realização de si e ver a beleza na realidade. O esquema geral dessa parte de seu discurso pode ser sintetizado na seqüência a seguir:

alt1) Queremos uma vida plena, cheia de sentido e valor.

2) Percebemos uma pessoa (Jesus), que é o bom mestre, ou seja, Aquele que nos ama e nos instrui por um caminho que leva a esta vida plena. Uma observação importante, para esclarecer essa passagem, está presente no discurso feito durante o Encontro na Fazenda Esperança, quando explica  que “A um certo momento da vida, Jesus vem e toca, com suaves batidas, no fundo dos corações bem dispostos. A vocês, Ele o fez através de uma pessoa amiga ou de um sacerdote ou, possivelmente, providenciou uma série de coincidências para dizer que sois
objeto de predileção divina”
.

3) Os mandamentos são indicações de como viver de acordo com o ensinamento deste bom mestre. Mas atenção! Os mandamentos correspondem a uma ordem natural de nossa vida, não vêm impostos de fora, mas correspondem àquilo que somos. Como somos contraditórios, nem sempre compreendemos ou fazemos instintivamente aquilo que sabemos ser melhor para nós, precisamos de um caminho de purificação para nos realizarmos. Esse é o sentido dos mandamentos.

4) Os frutos de nossa adesão a esse bom mestre são (1) a percepção da bondade e da beleza presentes na realidade; (2) o protagonismo na vida; (3) o amor vivido de uma forma mais plena e mais satisfatória.

Leia a seguir os trechos selecionados e confira.

“... Queremos viver e não morrer. Sentimos que algo nos revela que a vida é eterna e que é necessário empenhar-se para que isto aconteça. Em outras palavras, ela está em nossas mãos e depende, de algum modo, da nossa decisão... Que devo fazer para que minha vida tenha sentido? Ou seja: como devo viver para colher plenamente os frutos da vida? Ou ainda: que devo fazer para que minha vida não transcorra inutilmente? Jesus é o único capaz de nos dar uma resposta, porque é o único que nos pode garantir vida eterna. Por isso também é o único que consegue mostrar o sentido da vida presente e dar-lhe um conteúdo de plenitude...

[O jovem rico do Evangelho] percebeu que Jesus é bom e que é mestre. Um mestre que não engana. Nós estamos aqui porque temos esta mesma convicção: Jesus é bom. Podemos não saber dar toda a razão desta percepção, mas é certo que ela nos aproxima dele e nos abre ao seu ensinamento: um mestre bom. Quem reconhece o bem é sinal que ama. E quem ama, na feliz expressão de São João, conhece Deus (cf.1 Jo 4,7)...

Jesus nos garante que só Deus é bom. Estar aberto à bondade significa acolher Deus. Assim Ele nos convida a ver Deus em todas as coisas e em todos os acontecimentos, mesmo lá onde a maioria só vê a ausência de Deus... Se nós conseguíssemos ver todo o bem que existe no mundo e, ainda mais, experimentar o bem que provém do próprio Deus, não cessaríamos jamais de nos aproximar dele, de O louvar e Lhe agradecer. Ele continuamente nos enche de alegria e de bens. Sua alegria é nossa força. 
Mas nós não conhecemos senão de forma parcial. Para perceber o bem necessitamos de auxílios, que a Igreja nos proporciona em muitas oportunidades, principalmente pela catequese. Jesus mesmo explicita o que é bom para nós, dando-nos sua primeira catequese. "Se queres entrar na vida, observa os mandamentos" (Mt 19,17).

Ele parte do conhecimento que o jovem já obteve certamente de sua família e da Sinagoga: de fato, ele conhece os mandamentos. Eles conduzem à vida, o que equivale a dizer que eles nos garantem autenticidade. São as grandes balizas a nos apontarem o caminho certo. Quem observa os mandamentos está no caminho de Deus... Não são impostos de fora, nem diminuem nossa liberdade. Pelo contrário: constituem impulsos internos vigorosos, que nos levam a agir nesta direção. Na sua base está a graça e a natureza, que não nos deixam parados. Precisamos caminhar.

Somos impelidos a fazer algo para nos realizarmos a nós mesmos. Realizar-se, através da ação, na verdade, é tornar-se real. Nós somos, em grande parte, a partir de nossa juventude, o que nós queremos ser. Somos, por assim dizer, obra de nossas mãos...

Podeis ser protagonistas de uma sociedade nova se procurais pôr em prática uma vivência real inspirada nos valores morais universais, mas também um empenho pessoal de formação humana e espiritual de vital importância. Um homem ou uma mulher despreparados para os desafios reais de uma correta interpretação da vida cristã do seu meio ambiente será presa fácil a todos os assaltos do materialismo e do laicismo, sempre mais atuantes em todos os níveis.

Sede homens e mulheres livres e responsáveis; fazei da família um foco irradiador de paz e de alegria; sede promotores da vida, do início ao seu natural declínio; amparai os anciãos, pois eles merecem respeito e admiração pelo bem que vos fizeram. O Papa também espera que os jovens procurem santificar seu trabalho, fazendo-o com competência técnica e com laboriosidade, para contribuir ao progresso de todos os seus irmãos e para iluminar com a luz do Verbo todas as atividades humanas (cf. Lumen Gentium, n. 36)... 
Tenham em conta que a ambição desmedida de riqueza e de poder leva à corrupção pessoal e alheia; não existem motivos para fazer prevalecer as próprias aspirações humanas, sejam elas econômicas ou políticas, com a fraude e o engano...

Tende, sobretudo, um grande respeito pela instituição do Sacramento do Matrimônio. Não poderá haver verdadeira felicidade nos lares se, ao mesmo tempo, não houver fidelidade entre os esposos. O matrimônio é uma instituição de direito natural, que foi elevado por Cristo à dignidade de Sacramento; é um grande dom que Deus fez à humanidade. Respeitai-o, venerai-o. Ao mesmo tempo, Deus vos chama a respeitar-vos também no namoro e no noivado, pois a vida conjugal que, por disposição divina, está destinada aos casados é somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da castidade, dentro e fora do matrimônio, um baluarte das vossas esperanças futuras. Repito aqui para todos vós que "o eros quer nos conduzir para além de nós próprios, para Deus, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos(Carta encl. Deus caritas est, (25/12/2005), n.

Em poucas palavras, requer espírito de sacrifício e de renúncia por um bem maior, que é precisamente o amor de Deus sobre todas as coisas. Procurai resistir com fortaleza às insídias do mal existente em muitos ambientes, que vos leva a uma vida dissoluta, paradoxalmente vazia, ao fazer perder o bem precioso da vossa liberdade e da vossa verdadeira felicidade. O amor verdadeiro “procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doarse-á e desejará existir para o outro” (Ib. n. 7) e, por isso, será sempre mais fiel, indissolúvel e fecundo. Para isso, contais com a ajuda de Jesus Cristo que, com a sua graça, fará isto possível (cf. Mt 19,26). A vida de fé e de oração vos conduzirá pelos caminhos da intimidade com Deus, e de compreensão da grandeza dos planos que Ele tem para cada um. “Por amor do reino dos céus” (ib., 12), alguns são chamados a uma entrega total e definitiva, para consagrar-se a Deus na vida religiosa, “exímio dom da graça”, como foi definido pelo Concílio Vaticano II.”

Núcleo de Fé e Cultura – PUC/SP

Segunda, 19 Julho 2010 15:31

Reflexão para o 16º Domingo do Tempo Comum

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Reflexão para o 16º Domingo do Tempo Comum

O tema da liturgia de hoje é a hospitalidade. Tanto na primeira leitura que fala da visita de Deus a Abraão e Sara, quando moravam em tendas, como no Evangelho, quando relata a visita de Jesus Cristo a Lázaro, Marta e Maria. Deus vem a nós como qualquer pessoa e deseja ser acolhido.

A primeira leitura versa sobre a dificuldade que temos quando fazemos um ato de caridade e de acolhida e nos lembramos das palavras de Jesus: “Quem acolhe um desses pequeninos, me acolhe e quem me acolhe, acolhe o Pai que me enviou.” Abraão não sabe que acolhe Deus, mas no final tem consciência de que hospedou e serviu o Deus Altíssimo nas pessoas daqueles três homens.

Os três chegaram à tenda de Abrão em um momento inoportuno. Fazia o maior calor do dia e Abraão fazia sua sesta. Todavia, ao vê-los ao longe, ele se levanta e se dirige aos visitantes e lhes dá as boas-vindas. Faz com que se sentem, traz água para que lavem os pés e vai tomar outras providências para bem recebê-los. Mais tarde, aparece com pão feito na hora, com a carne do bezerro que havia mandado o empregado matar e preparar, com coalhada e com leite.

Podemos dizer que, com sua generosidade, Abraão providenciou o máximo que ele podia oferecer e ofereceu um banquete.

Abraão não se senta, mas permanece de pé, no sentido de estar disponível para servi-los. Podemos imaginar, pela fala de Abraão, que os chama de "meu Senhor" ao acolhê-los, que intuía que os visitantes fossem Deus. Por outro lado, eles se comportam de modo diferente de como os habitantes daquela região se comportariam, não perguntando pela mulher do dono da casa; ao invés, eles perguntam por ela e demonstram saber seu nome, e fazem alusão à sua esterilidade, prometendo-lhes um filho dentro de um ano.

O relato da visita de Jesus à família de Betânia traz à nossa reflexão a dimensão espiritual que pode conter uma visita e sua acolhida.

Jesus não critica Marta por chamar sua irmã para ajudá-la nos afazeres e nem elogia Maria porque, aparentemente, está desligada, não percebendo o "sufoco" da irmã. Marta é censurada por Jesus porque está "preocupada e agitada por muitas coisas"; está dispersa em meio a tantos afazeres. Maria é elogiada porque está na "escuta da Palavra".

Marta deveria ter-se envolvido no trabalho após ter escutado a Palavra. Isso evitaria que ela caísse na agitação, na canseira e na neurastenia.

Por outro lado, durante esse episódio, não se ouviu a voz de Maria. Ela permaneceu silenciosa todo o tempo. Certamente, em seu silêncio, Maria viu a reação da irmã e se levantou colocou o avental e foi trabalhar. Por sua vez, Marta deixou o avental e foi acalmar-se aos pés de Jesus, quando este a censurou.

Abraão, com serenidade, deixou seu descanso no momento mais exaustivo do dia e foi servir os hóspedes. Marta, preocupada em servir o Mestre, se esqueceu de se alimentar de sua Palavra e ficou agitada, preparando a refeição. Maria, a disponível, primeiro se preparou para o serviço, ouvindo o Senhor. Mesmo com a reclamação da irmã, mesmo trabalhando e servindo o tempo todo, conservou a serenidade a ponto de não se ouvir sua palavra.

A acolhida mais importante é a feita à Palavra de Deus. Ela irá nos ensinar a acolher todas as pessoas. Contudo, seremos mais felizes se estivermos no seguimento de Abraão e de Maria, acolhendo a Palavra nos dois sentidos: tanto em escutar o Senhor, a Palavra encarnada, como em servi-la com nossos préstimos, deixando que ela fale através de nossos gestos, deixando o Verbo encarnar em nós, como fez Maria de Nazaré.

(Fonte: Informativo da Radio Vaticana)

Maria,
Mãe de Jesus Cristo e Mãe dos sacerdotes
recebei este preito que nós Vos tributamos
para celebrar a vossa maternidade
e contemplar junto de Vós o Sacerdócio
do vosso Filho e dos vossos filhos,
ó Santa Mãe de Deus.

Mãe de Cristo,
ao Messias Sacerdote destes o corpo de carne
para a unção do Espírito Santo
a salvação dos pobres e contritos de coração,
guardai no vosso Coração
e na Igreja os sacerdotes,
ó Mãe do Salvador.

Mãe da fé,
acompanhastes ao templo o Filho do Homem,
cumprimento das promessas feitas aos nossos Pais,
entregai ao Pai para Sua glória
os sacerdotes do Filho Vosso,
ó Arca da Aliança.

Mãe da Igreja,
entre os discípulos no Cenáculo,
suplicastes o Espírito
para o Povo novo e os seus Pastores,
alcançai para a ordem dos presbíteros
a plenitude dos dons,
ó Rainha dos Apóstolos.

Mãe de Jesus Cristo,
estivestes com Ele nos inícios
da Sua vida e da Sua missão,
Mestre O procurastes entre a multidão,
assististe-l'O levantado da terra,
consumado para o sacrifício único eterno,
e tivestes perto João, Vosso filho,
acolhei desde o princípio os chamados,
protegei o seu crescimento,
acompanhai na vida e no ministério
os Vossos filhos,
ó Mãe dos sacerdotes.

Amém!

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